Velho João Esquilador
Fernando Mendonça Mendes
O tosador que foi João
Nunca mais há de voltar
A Morte veio esquilar
O corpo velho maneado
Sua tesoura no passado
Era afiada, era ligeira
Da comparsa era a primeira
E hoje o fio tá enferrujado
Resta na imaginação
Lembrar as tardes tranquilas
Os causos entre as esquilas
A canha contra o calor
Foi o tempo embolsador
Socando velos de sonho
Na vida do João tristonho
Que é bolsa de esquilador
Vai morrer nalgum novembro
Velho João sem tirador
No céu com Nosso Senhor
Que não é rei, nem patrão
Há de achar a gratidão
Por tantos velos atados
E os seus dedos encerados
Justos cobres guardarão
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