Cicatriz da Saudade
Marco Aurélio e Montenegro
Eu deitei na minha cama
Não conseguia dormir
Meu coração bateu forte
Quase que não resisti
Fiquei horas recordando
O lugar onde eu nasci
O ribeirão de águas claras
E do bando de araras
Nas copas dos buritis
Recordei do angiqueiro
Que a casa sombreava
Bem na frente um cruzeiro
Onde minha mãe rezava
Sempre pagando promessas
Pelas graças que alcançava
Pertinho tinha um colchete
Que cercava o piquete
Onde o gado ruminava
Me vi correndo à cavalo
No meio dos coqueirais
Papai com a viola no peito
Cantando versos imortais
É uma grande cicatriz
Que do meu peito não sai
Das madrugadas de festas
Das cantigas de serestas
Dos bons tempos de rapaz
Enfim tudo se acabou
Já não tem mais regalia
Vivo triste e solitário
Bem distante da família
É o que não sai da mente
Minha velha moradia
Hoje eu moro na cidade
Convivendo com a saudade
Até chegar os meus dias
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